Curso de Extensão Internacional: Educação Física Em Contextos Pedagógicos Latino-Americano

Autora Pamela Ribas

Aula Inaugural

    O Curso de Extensão Internacional e Educação Física em Contextos Pedagógicos Latino-Americanos teve inicio com sua aula inaugural no dia 14 de março de 2023. Neste primeiro encontro, nos reuniremos com professores e alunos do Brasil, Chile e Argentina para apresentar o curso e uma primeira iteração com os alunos, onde os mesmos se apresentaram e falaram um pouco das suas motivações para estarem presentes e suas perspectivas. 







Primeiro Encontro (21/03/2023)

    No dia 21 de março demos início a primeira aula do curso, sendo que, este momento foi importante para que o cronograma fosse apresentado aos alunos. Também tivemos a oportunidade de levantar a primeira discussão sobre o "portunhol", Um idioma criado por nós, Latino-Americanos, para uma melhor interação entre os países. Também, em grupos menores, nos reunimos para discutir "Porque você se sente, ou não, Latino-Americano". Esta troca foi importante, pois, foi a primeira oportunidade que tivemos para conversas com algumas pessoas de países diferentes, ou mesmo de cidades distantes dentro do mesmo país.



    Também foi apresentado a obra denominada "A Mão da América", que da as boas-vindas aos visitantes, próxima ao pé da passarela do Memorial da América-Latina. A escultura-símbolo do Memorial e marco urbano de São Paulo foi criada por Niemeyer para lembrar a luta pela liberdade dos povos irmãos da América.
    Na palma da Mão, descendo por seus sete metros de concreto aparente, o artista desenhou o mapa estilizado do subcontinente, em vermelho. Ao concluí-la, escreveu: “Suor, sangue e pobreza marcaram a história desta América Latina tão desarticulada e oprimida".



Segundo Encontro (28/03/2023)

    Ao som de "Todavía Cantamos" (Victor Herredia e Mercedes Sosa) iniciamos o nosso segundo encontro, após tivemos a leitura de um trecho do livro "Veias Abertas da América Latina", pelo professor Osmar Moreira de Souza Junior, onde o mesmo relembra nossas origens Latino-Americanas, sendo esse um momento de muita emoção. 
    Em seguida, o professor Arnaldo S. Pinheiro Leitão fez uma intervenção com a temática "cartas pedagógicas" inspirado em um livro de Paulo Freire denominado "Professora sim, tia não - Cartas a Quem Ousa Ensinar" sendo que, toda a obra foi construída em cartas. Desta forma, os alunos Lucas Barbosa Resende e Fagner José Passos criaram e apresentaram para os presentes suas próprias cartas pedagógicas contando um pouco das suas trajetórias, a infância, como se tornaram professores de Educação Física, e suas experiências atuais.
    Em outro momento, a professora Griselda Amuchastegui e professora Carina Bologna, para iniciar o tema proposto, levantou questionamentos sobre a organização do sistema educacional de cada país, e assim a turma foi dividia em grupos para que todos pudessem explicar e discutir essa temática.
    Depois dessa dinâmica, voltamos todos para sala principal e uma pessoa de cada grupo sintetizou o que foi compartilhado. As principais linhas de organização educacional foram: Como são divididos os níveis escolares, a obrigatoriedade do ensino pelo estado de forma gratuita, a inclusão da educação sexual nas escolas, a implementação do novo ensino médio no Brasil, o ensino técnicos e integral, escola laica e sobre as formas de arrecadação de impostos destinados a Educação. Um debate muito construtivo, que fez muitos participarem chegando ao ponto de ultrapassar o tempo do nosso encontro e como disse o professor Osmar, " Deixou um gostinho de quero mais".

Confira as cartas escritas pelos nossos alunos, basta clicar nos nomes a seguir:

Sala Geral




Salas Específicas







Terceiro Encontro (05/04/2023)

    O tema da terceira aula foi a organização curricular do Brasil Argentina e Chile. Dando início abordagem o professor Osmar trouxe a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), sendo o principal documento curricular do Brasil, centrado nas competências e habilidades e dividida em seis unidades temáticas e 8 dimensões de conhecimento, onde foi homologado em 2018 depois de três modificações. Este documento veio com o intuito de substituir os PCNs, sendo que é possível perceber semelhanças entre os dois, mas também diversos avanços. 
     Em seguida, professor Ricardo contou um pouco sobre organização do Chile, que é regida pela lei Geral de Educação de 2009, a qual sucede a lei Orgânica Constitucional de Ensino, focada principalmente nas habilidades e cada fase possui características próprias. O professor Ricardo, contou que, nos 2 últimos anos do ensino básico, se cria um trajetórias formativas, a Educação Física perde caráter obrigatório e passa a ser opcional.
      Já na Argentina, a professora Marcela falou sobre os Desenhos e Propostas Curriculares, regido pela lei da Educação nacional de 2006, no qual a educação física é obrigatória em todos os anos da Educação básica. Contudo, nos anos iniciais é uma hora por semana e nos anos secundários, são três horas por semana, além de uma disciplina opcional de orientações em educação física que são ofertados por algumas escolas.
     Após a apresentação dos currículos, foram divididos grupos para que cada participante falasse sobre suas experiências como alunos e como professores de Educação Física e como essas bases influenciam em suas práticas

       Os assuntos mais comentados foram:
  • No Brasil - o tal do professor "rola bola";
  • No Chile e na Argentina - os alunos ainda são separados por gênero;
  • Um ponto comum entre os três países é a abordagem técnico esportivista, ou seja, as aulas são  voltadas para os esportes;
  • E os documentos de base curricular nem sempre são aplicados.





Quarto Encontro (11/04/2023)

    Iniciando o nosso 4° encontro com duas belíssimas canções colocadas pelos professores Marcela Cena e Ricardo Carvalho.

    Logo após, a professora Marcela Cena dá início a abordagem do tema contando como é a formação docente na Argentina. Lá a formação docente em Educação Física começou em 1912, no Instituto Nacional Superior de Educação Física, onde ensinava-se ginástica e esgrima. Uma formação militarizada, focada na ginástica, saúde e disciplina dos corpos. Homens e mulheres eram separados e tinham atividades diferenciadas. 
    Devido a problemas técnicos com relação a professora, deu-se início a um debate sobre as semelhanças e diferenças entre os países até que a mesma retornasse e desse prosseguimento a sua fala. 
    Nesta época, ingressavam mais homens que mulheres, principalmente pela influencia dos esportes, nesta época as turmas eram separadas por gênero e os conteúdos eram diferentes. O contexto começa a mudar durante a ditadura militar, a quantidade de estudantes homens e mulheres se igualam e em 2001 as turmas passam a ser mistas. 
        E respondendo a pergunta feita pelo professor Osmar, sobre testes de aptidão física, ela explica que sim, havia testes físicos e vários requisitos como: padrão de estatura, idade máxima, não ter tatuagens entre outros.
    Dando seguimento, o professor Ricardo, ao falar sobre o Chile, compara a trajetória da formação de professores com a da Argentina e do Brasil, sendo esses contextos semelhantes - higienista, militarista, disciplina do corpo e atividade física como saúde - , para o sistema educacional chileno "sujeito são para produtividade", ou seja, sujeito tinha que ter condições físicas para trabalhar.
    No Chile existem várias formas de Educação Superior: Formação técnica, Preparador Físico, Técnico Esportivo e Formação de Professores nas Universidades, a qual é exclusiva para a docência, com pedagogia em Educação Física. Para fazer a formação superior, os alunos devem passar por uma seleção de nível nacional, ademais as notas da escola secundária interferem nos exames de cada Universidade. No Chile a graduação dura 5 anos, e todas as Universidades são Privadas, até às públicas, ou seja, todas possuem mensalidades para pagar. Ao apresentar a grade curricular, o professor Osmar destacou a disciplina de inglês, algo que não tem no currículo do Brasil e nem da Argentina.
    E para falar do Brasil, o professor Paulo Carlan começou sua fala dando destaque para a primeira escola de formação superior , a Universidade do Rio de Janeiro - URJ, na capital do Brasil em 1920, a cidade do Rio de Janeiro, com o objetivo de assepsia social de saúde, em uma concepção europeia de controle do corpo e da mente. 
    Ele conta que, antes da formação de docentes em Educação Física, eram os militares quem ministravam as aulas, muitas vezes acompanhado de um médico, por causa da política higienista. Assim como já foi mencionado, homens e mulheres eram separados e com conteúdos diferentes. Utilizava-se o método de ginástica Alemã até meados do século, logo em seguida abordando a pedagogia Tecnicista voltada para os esportes, muito por exigência do Governo Militar (1964 - 1985 - Ditadura Militar), que queriam criar atletas para competir nas olimpíadas. Em 1969, surgiu o primeiro curso de formação docente em Educação Física na Universidade de São Paulo - USP, na capital do estado de São Paulo, uma universidade civil que trazia uma proposta voltada para a formação geral. A graduação de docente no Brasil tem duração de 4 anos, sendo formado em Licenciatura e sua forma de ingresso se dá por meio de um processo seletivo de nível nacional, o Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, que através do SISU - Sistema de Seleção Unificado, faz a seleção para as Universidades que têm o ENEM como requisito para entrar. No entanto, algumas Faculdades e Universidades aplicam um exame, denominado de Vestibular, único de cada instituição.
    E assim encerra mais um encontro, mais uma vez, ficamos com aquele” gostinho de quero mais”, sendo que, o tempo não foi suficiente para as discussões em grupos.






Sexto Encontro (25/04/2023)

    O 6° encontro dá início a segunda unidade do curso, teremos a participação de convidados para enriquecer ainda mais nossas aulas, pois são professores que fazem trabalho de pesquisa sobre as temáticas que serão abordadas nas próximas semanas. E para iniciar essa nova unidade, com o tema Interdisciplinaridade nas interfaces entre Educação e Educação Física, contamos com a presença de Sidinei Pithan da Silva, formado em Educação Física e Farmácia pela Universidade de Santa Maria-RS, Graduação e mestrado pela Unijuí -RS, Doutorado na UFPR, Professor do curso de Educação Física, do Prof e de pós graduação na Unijuí e seus temas de pesquisa são: Filosofia, Educação, História, Epistemologia, Complexidade e Concepção Dialética do Conhecimento. Em sua belíssima apresentação, os principais assuntos abordados foram sobre o racismo, tanto de negros quanto de índios, o machismo, o decolonialismo europeu, trazendo a história desses países que foram colonizados, com o intuito de apagar sua cultura. Ao falar sobre o tema, Professor Sidnei fala que a Interdisciplinaridade favorece uma compreensão mais integral, com o corpo fazendo parte da vida escolar. Esse método torna mais vivo a integração das disciplinas e a Educação Física deve promover esse diálogo, pois é uma disciplina que conversa com todas as outras.
    Após a maravilhosa participação do professor Sidnei, se iniciou um debate sobre a situação atual da Educação Física. Uma discussão com muitas participações de nossos colegas e alunos e mais uma vez ultrapassando nosso tempo de aula, pois, falar sobre a Educação Física no contexto escolar atual é sempre um assunto muito pertinente.




       



Sétimo Encontro (02/05/2023)



    Em nosso 7° encontro, no dia 02 de maio de 2023, contamos com a presença de dois convidados para falar sobre o tema Educação, Educação Física relacionados aos povos originários da América Latina. Um tema muito amplo e de grande importante discussão para nosso curso, pois os países têm diversas etnias.

    O primeiro convidado a falar é o Professor Hernán Manuel Caulquin Cuevas, diretor de uma escola em Tarca, região de Maule, no Chile. Descendente de Mapuche, que é o povo originário da região norte da Argentina e sul do Chile. Professor Hernán lidera um projeto educativo em uma escola, dentro de uma comunidade, onde faz um resgate da cultura e da educação Mapuche. Em sua fala diz que seu nome Calquin é um apelido Mapuche, também contou das lutas por direitos indígena, reconhecimento cultural e pela recuperação de seu território ancestral. Uma lei de 1997, concede direitos aos descendentes para que possam trabalhar com a cultura nas escolas. Uma fala muito rica e reflexiva sobre as lutas desses povos por reconhecimento diante dessa sociedade eurocêntrica.

    Em seguida, o professor Edwin Alexander Canón Buitrago, graduado em Licenciatura em Ed. Física - Universidade Pedagógica Nacional - Bogotá/Colômbia, Mestrado em Ciências do Movimento Humano e Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS. Atualmente é professor universitário na Universidad de la Republica Uruguay e com Grupos de estudos Decoloniais em Educação Física e Saúde. Tem experiência na área de Educação Física, Currículos de formação de Professores e estudos Interculturais, atuando principalmente nos seguintes temas: Experiência corporal, Práticas Corporais Indígenas, Educação Intercultural, Currículos de formação em Educação Física.

    O mesmo conta que depois de formado foi trabalhar como professor de uma faculdade na Amazônia, a parte colombiana, lá eles se depara com uma outra lógica, a qual não teve conhecimento, com situações que não foi preparado, uma lógica indígena. Relatou que os indígenas perceberam a importância de entrar na faculdade como um meio de resolver seus problemas. Sua experiência com a educação física nas comunidades indígenas, em uma escola num lugar bem afastado, sem energia elétrica sem infraestrutura, onde os homens e as mulheres eram separados, foi desafiador, ele relata que muitos professores desistem de trabalhar nessas escolas em menos de uma semana, e que, ele como professor de educação física trabalhava os esportes, mas o que eles mais gostavam era das práticas voltadas para as atividades de sobrevivência, atividades que lembrasse a caça, a pesca, a rotina deles. Já em uma outra vivência, foram as Olimpíadas Indígenas com práticas corporais não sistematizadas, com danças, rituais, jogos entre outros. Quando Edwin faz seu mestrado, em que a temática era sobre os povos indígenas, ele começa a pensar na formação do profissional de educação física dentro do ensino escolar. Suas pesquisas são sobre perspectivas decoloniais - educação física, formação e decolonialidade - pensando em outras perspectivas, refletindo sobre a ação da educação física na área escolar, seja com povos indígenas ou em escolas regulares abordando os temas da cultura de povos originários. Na universidade que trabalha, conduz um grupo de estudos de coloniais em educação física e saúde, tematizando a interculturalidade, relações étnico-raciais e de colonialidade, tratando da homogeneização desses assuntos trazendo uma discussão dos saberes que merecem ou não serem estudados para falar sobre o assunto, o professor trouxe slides sobre seu estudo e pesquisas e muitas fotos de suas vivências mais uma palestra pertinente e reflexiva.

    Para finalizar um de nossos colegas, que é descendente de indígena, aluno da UFSCAR, inclusive do nosso professor Osmar, compartilhou sua experiência durante sua formação escolar, contou que não teve contato com sua cultura e que sentiu falta desse tema na escola.

    Enfim, um encontro maravilhoso, com o tema muito importante que rende discussões em todas as áreas, pois falar de povos originários é devolver cada vez mais a eles sua dignidade, a qual foi roubada na época do colonialismo.






Oitavo Encontro (09/05/2023)

    Para a 8° aula, dia 09 de maio de 2023, tivemos a participação de dois convidados para falar sobre educação e inclusão, um assunto de muita importância para ser debatido em nosso curso.

    Iniciamos com a fala do professor Emiliano Pablo Naranjo, que vive em Ituzaingó, Provincia de Buenos Aires (Argentina) e é formado em Educação Física pela Universidade de La Matanza (UNLAM). Especialista em Gestão Educacional e Mestre em Educação pela Universidade de San Andrés (UdeSA). Ele leciona na Universidade Nacional de Hurlimgham no grau de docente universitário em educação física e na especialização de pós-graduação em educação física para pessoas com deficiência. Ele é uma das referências selecionadas pela UNESCO como defensor da Educação e Inclusão para a América Latina e o Caribe Proferiu mais de 50 conferências e formações sobre Educação Inclusiva e Educação Física. O professor começa fazendo a seguinte provocação: "Como docentes o que é ser e fazer a docência no campo da Educação Física?" Nos convida a pensar em contexto latino-americano, quantos comportamentos subjetivos, intrasubjetivos e trans subjetivos, que constitui uma noção de representação do que presumimos ser e fazer um docente de educação física. É nessa presunção que cremos aparece em corpos, aparece em histórias, parecem pessoas, muitas vezes são pessoas que aparecem, são histórias que conhecemos muitas vezes não se faz representar.  Refletindo também sobre: onde está o corpo que falta? Pois a imagem que temos representativa do que significa ser docente, não habilita esse espaço para determinados corpos, determinadas histórias, para determinadas pessoas. E a partir daí que nos questiona: onde está o corpo que falta? Seguindo esta reflexão, Emiliano conta que passou a buscar biografia sobre este assunto, pois, em sua trajetória escolar não teve contato com tal temática. Esses corpos, essas histórias e essas pessoas com incapacidade, ou para nós brasileiros, pessoas especiais ou com alguma deficiência. Através de análise, vê-se a necessidade na formação de professores de educação física de mostrar como ensinar a esses outros corpos.

    Em sua fala, Emiliano faz uma contextualização com a origem da educação física que trazia uma linha higienista, remetendo também a separação desses corpos, quais servem e quais não servem. Para ele é uma relação "espantosa" - destaca - pressupõe as condições de corpo, na medida que mostramos domínios sobre ele, pelos parâmetros sociais que esses corpos são considerados valorizados pela sociedade, é lá que seu corpo está. Com profissionais de educação física devemos romper com essa relação de corpo trabalhador ou não capacitado para o trabalho. Isso pode ser modificado através das normativas internacionais aplicando e permitindo que outros corpos, outras histórias passem a se tornar válidos.         Todavia, ser docente marca o caminho para que seja possível ver que pode haver outras histórias, ou seja, "a tarefa educativa é justamente trocar este enfoque",ressalta Emiliano.

Uma fala rica e pertinente, nos fazendo pensar sobre ser e fazer a docência. 

    Em seguida, Anelice Ribetto, Doutora em Educação e Professora Associada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisadora procientista da mesma instituição. Psicóloga formada pela Universidad Nacional de Córdoba/Argentina. Lotada no Departamento de Educação da Faculdade do Formação de Professores (UERJ/FFP/DEDU) participa de projetos de ensino, pesquisa e extensão na Licenciatura em Pedagogia e atua como professora efetiva na Linha Políticas, Direitos e Desigualdades do Programa de Pós-Graduação em Educação - Processos formativos e desigualdades sociais do qual foi coordenadora desde 2016 até 2020. Faz parte do Coletivo "Diferenças e Alteridade na Educação" e do Grupo de Pesquisa "Vozes da Educação". Tomou a palavra dando seus "PITACOS" - como se fala no Brasil, palavras dela- ou seja, dando sua opinião sobre a perspectiva na educação inclusiva. Destaca que não trabalha com educação física, porém, trabalha com educação e é isso que a liga com as professoras Marcela e Griselda. Anelice começou sua apresentação com um vídeo de uma escola onde os alunos estavam com máquinas fotográficas batendo suas fotos, pois o título do vídeo é “Infinito de um segundo” . A ideia é mostrar um espaço, sem palavras, porém o espaço de sensações, onde se pode produzir micro políticas afirmativas e micro políticas inclusivas, a ideia é pensar que as escolas têm muita perspectiva de pensar a educação inclusiva como uma prática política cotidiana. Anelice começou contextualizando e explicando sobre o que é educação especial  no Brasil Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. . Além das leis brasileiras de inclusão (A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, é um conjunto de dispositivos destinados a assegurar e a promover, em igualdade de condições com as demais pessoas, o exercício dos direitos e liberdades fundamentais por pessoas com deficiência, visando a sua inclusão social).

    A partir desse Marco teórico, jurídico e metodológico podemos pensar a possibilidade de criar, produzir e também dar visibilidade às práticas antiamericanizantes, que acontecem nas escolas públicas que podemos chamar de práticas inclusivas. Ela cita que a UERJ foi a primeira Universidade brasileira que implantou o sistema de cotas/vagas para pessoas com deficiência, negras indígenas e pessoas de baixa renda. Lá há um grupo que trabalha a partir de três princípios: - pensar em rede de forma horizontal; - problematizar a normalização; - e narrativa desamericanizante.  Anelice fez um vínculo com a posição ética, política e dialógica com relação ao tema.

    Os dois convidados levaram a turma a um debate belíssimo e muito construtivo e acabamos estourando o tempo da aula, como sempre, deixando um gostinho de quero mais.









Nono Encontro (16/05/2023)

    A 9° aula tematizou novamente a relação de povos originários na Educação e Educação Física. Para falar sobre o tema tivemos a presença da convidada professora Joelma Cristina Parente Monteiro Alencar. Ela possui graduação em Educação Física - Licenciatura plena, Doutorado em Educação tematizando Ritual e esportivização da cultura de movimento indígena; Mestrado em Ed Física; Especialização em andamento em História e Cultura Indígena e Afro-brasileira; Graduação em Ciências Sociais;. Também é coordenadora do Núcleo de Formação Indígena e do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena, ambas na Universidade do Estado do Pará. Coordena o Programa Saberes Indígenas na Escola. 
    Seu interesse pelos povos indígenas começou a partir das suas experiências em sua trajetória acadêmica e profissional. Vendo essa necessidade, iniciou seus estudos com os povos indígenas na Educação Física, onde seu primeiro contato foi com os jogos indígenas, um evento esportivo típico da região na qual estava trabalhando, e assim percebeu que não tinha conhecimento sobre a cultura indígena, nessa ocasião se deparou com 5 povos diferentes do Brasil com práticas diferenciadas. 
    Logo, em seu mestrado estudou um pouco sobre povos indígenas e no Doutorado elaborou uma tese Ritual e Esportivização da cultura de movimento indígena, trabalhando com autores progressistas e educação indígena. Por volta de 1992, se dedica à formação de professores indígenas e é onde ela se aprofunda, rodando o Brasil com os jogos esportivos indígenas, e percebendo que em cada região as práticas são diferentes. Assim, começou vivenciar os dias nas aldeias para poder acompanhar essas práticas. Um exemplo que ela nos deu é sobre a corrida de toras, a qual não é apenas um atividade esportiva, sobretudo tem um contexto cultural relacionado com a época de plantio. Também em sua fala, chama atenção para o conceito do que é TRADICIONAL, com a percepção de ancestralidade relacionada com o Tradicional. A maioria das práticas estão referenciadas com as histórias ou narrativas que vão orientar toda a vida e a organização dos povos ancestrais.
     Além disso, destaca que precisamos considerar o processo de colonização que negou aos indígenas o direito de manifestar sua cultura. Contudo, a Constituição Federal de 1988, assegura o direito ao indígena em seu “Artigo 231 - São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
     Além da A Lei nº 11.645, de 10 março de 2008 torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, porém não prevê a sua obrigatoriedade nos estabelecimentos de ensino superior para os cursos de formação de professores (licenciaturas). Um processo evolutivo compensatório pelos danos causados pelo colonialismo, um pequeno avanço para nossos povos originários, que são os verdadeiros donas das terras. 
    No entanto, segundo Joelma, devemos pensar onde está a Educação Física no contexto dos povos indígenas? Será que a Educação Física está acompanhando essa evolução? Em resposta, ela fala que estamos desconectados, sem muito avanço nesse sentido, havendo a necessidade de um diálogo exercitando a perspectiva decolonial intercultural crítica. Pensar a diferença, não apenas como um respeito, mas estabelecendo um diálogo com a cultura indígena, pois há um dinamismo de dominação na Educação Física. Todavia, na BNCC, estão inclusos as práticas culturais indígenas, mas danças, jogos e brincadeiras indígenas são tão importantes quanto qualquer outra prática aplicada pela BNCC, por isso merece um maior aprofundamento. 
    Outro destaque, foi que, em todas as aldeias que visitou, encontrou um campo de futebol e vivenciou a prática feita por eles, porém de uma forma diferente do que conhecemos, e que quando um professor de Educação Física vai trabalhar com esses povos quer aplicar o futebol de maneira tradicional, aquela que aprendeu em sua graduação, no entanto não é culpa do professor e sim de sua formação, que é pobre em ensinamentos indígenas e por isso não entende sua contextualização. Por esse motivo, defende que os professores devem ser os próprios indígenas.
       Mas nos deparamos com outro problema, que é o difícil acesso deles às universidades, deslocamento, políticas específicas para o aprendizado, além de que, as universidades têm uma pedagogia “branca”, ou seja, seu ensino-aprendizagem seguem os padrões eurocêntricos. Finalizando sua apresentação, a professora conta que na Universidade Federal do Pará, trabalha com componentes curriculares com perspectivas neste contexto diferenciado, com disciplina étnico-racial, licenciatura intercultural específica para educação física para alunos indígenas ou não. Ela lembra que, em uma de suas experiências, a qual é com um povo muito conservador, as regras são muito rígidas com relação às mulheres nas práticas esportivas, no entanto ela conseguiu incluir todos em algumas práticas como peteca e futebol. Enfim, fechando sua fala com uma reflexão, de que forma vamos trabalhar essas perspectivas da Educação Física no contexto indígena, pensando em outras pedagogias e outra Educação Física para esses povos.
    Foi uma palestra maravilhosa, muito construtiva, enriquecedora e pertinente, onde a mesma levou a um debate entre os alunos e os professores compartilhando suas experiências e suas dúvidas. Um tema de grande importância para pensar a Educação Física em contexto Latino Americano.

Decimo Encontro (30/05/2023)

        Na 10ª aula debateu-se assuntos étnico-racial e atravessamento com a Educação Física. Para falar sobre o tema recebemos dois convidados, a professora Dr. Gabriela e o professor Gilmar, que são pesquisadores do assunto.

    Para dar início a nossa discussão, a professora Gabriela pede licença a EXU para poder dar início a sua apresentação. A professora Gabriela Nobre Bins é Doutora e Mestre em Ciência do Movimento Humano, Licenciada em Ciências Sociais e Licenciada em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Especialista em Dança pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Especialista em Educação Psicomotora pela Faculdade Porto-alegrense de Educação, Ciências e Letras. Atualmente é professora da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Pesquisadora do grupo F3P EFICE.e do grupo Mães F3P EFICE Educadora Griô formada pela escola de Formação em Pedagogia Griô - Grãos de Luz e Griô. Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Educação física escolar, Esporte Recreação e Lazer e educação para as relações étnico raciais, atuando principalmente nos seguintes temas: escola, relações étnico raciais, branquitude, gênero e maternidade. Porque pedir licença a EXU - Exu é um orixá guardião da comunicação, que faz parte das religiões originárias da África, como Candomblé e da Umbanda. É uma das entidades mais conhecidas e cultuadas pelos adeptos dessas religiões no Brasil. Em respeito à energia de grande força de Exu, costuma-se pedir licença antes de adentrar aos espaços destinados à eles

    Educação Física e a Educação para relações Etnicorraciais, essa é a sua temática. Mas, porque se interessou por esse tema? Profª Gabriela explica que saiu de uma escola, onde a maioria de seus colegas eram brancos e foi para uma em que se depara com a maioria negros, e lá, apesar de ter uma mesma pedagogia eurocentrica, as culturas eram diferentes, porém essas culturas não eram trabalhadas. Todavia, já formada, percebeu que seus alunos negros não tinham direito à cultura e isso foi o que a fez pensar por esse lado.

    Ademais, a professora fala do marco legal dos direitos etnicorraciais que é a Lei 10.639/03, a qual modificou a Leis de Diretrizes de Base (LDB) e a Lei 11. 645 que torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio. Um avanço para as lutas dos negros e povos indígenas no Brasil. Mas, para essa educação antirracista acontecer, deve haver fiscalizações para o cumprimento dessas leis. 

        Além disso, tratar todos iguais significa que estamos tratando assuntos etnicorraciais? - indagou a professora. Contextualizando, expõe que a escola segue padrões europeus e pensar a Educação Física, é romper com essa lógica, pois mesmo não tendo esse grupo de alunos, devemos trabalhar com todos para que vivenciam essas culturas. Educação Decolonial é uma práxis fundamentada.

    A Professora Gabriela nos conta sobre a Filosofia Ubuntu, que diz "Eu sou porque nós somos". Originária do continente africano, a filosofia Ubuntu fala sobre estar aberto e disponível para os outros, apoiar os próximos, não se sentir ameaçado quando outros são capazes e bons, unir forças para conseguir melhores resultados e entender que a diferença entre nós é que gera o verdadeiro crescimento. E também a Filosofia Bem Viver, que é a filosofia e a prática indígena, que provém de uma proposta ancestral de complementaridade, harmonia e reciprocidade entre os povos, a natureza e todos os seres que dela fazem parte, contrapondo-se à concepção capitalista de competitividade do viver melhor, em termos de consumo. E também o livro que fala sobre a Filosofia Ubuntu, Pedagogia da encruzilhada, de Luiz Rufino, que fala da figura do Exu e os conhecimentos sobre os orixás e a cultura. Também cita a Pedagogia do Griô, que é uma pedagogia da vivência afetiva e cultural que facilita o diálogo entre as idades, entre a escola e a comunidade, entre grupos étnicos-raciais interagindo saberes ancestrais de tradição oral e as ciências formais para a elaboração do conhecimento.

    Encerrando sua participação, apresenta seus projetos. O primeiro é Corpo e Ancestralidade, que trabalha com a corporalidade, outo é na Patucação, que fortalece a auto estima dos alunos negros, com o tambor e a luta no combate à intolerância à religiosidade. E o 3° com os jogos indígenas que emprega a Filosofia do Bem Viver para que possam entender o que significa ser indígena e sua importância. 

    O que falar sobre essa apresentação, simplesmente maravilhosa, uma fala rica e pertinente que a professora Gabriela nos deu o prazer de poder compartilhar.

Logo em seguida, o professor Gilmar tem a palavra. Gilmar, possui graduação em Educação Física pelo Centro Universitário Central Paulista, mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (PPGE/UFSCar). Atuou como formador no curso de Educação das Relações Étnicos-Raciais pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB/ UFSCar). Membro do Núcleo de Estudos de Fenomenologia em Educação Física (NEFEF/ UFSCar). Tutor da disciplina Fundamentos da Capoeira oferecida como optativa no curso de Educação Física UFSCar. Estudante de doutorado na linha de Práticas sociais e processos educativos, Programa de pós graduação em educação (PPGE), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ingresso em 2018. Associado a Sociedade de pesquisa qualitativa em motricidade humana (SPQMH). Associa a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN).

    Inicialmente trás um debate sobre a necessidade de corpo dentro da escola e a dificuldade que os alunos têm de aceitar e entender a educação física. Ele relata que através da capoeira trabalha com práticas pedagógicas dentro das escolas a fim de fazê-los entender  que o corpo é movimento e ritmo.     O professor exibiu um vídeo que objetiva o entendimento do conceito de corpo, ritmo e dança. O filme mostra situações do cotidiano que viram música e dança, como sons de homens trabalhando, crianças com garrafas pets para encher de água e também instrumentos construídos manualmente mostrando a união de todos numa dança de movimentos e ritmos com sons do dia a dia de todos. 

    Além disso, ele enfatiza que temos que mostrar que somos corpo, ou seja, trabalhar o corpo através das práticas ancestrais, contra colonial, onde é possível experimentar outras práticas além do esporte.

Portanto, para finalizar sua fala, o prof° Gilmar, salienta o pouco espaço e a baixa valorização que a disciplina de Educação Física têm nas escolas, pois são apenas duas aulas por semana, muito pouco para trabalhar as inúmeras práticas da área. Todavia, não entendem a importância da Educação Física na construção da criança. 

    Parabenizando a apresentação do professor Gilmar, que trouxe suas experiências com o campo da capoeira e suas aulas baseadas no corpo, movimento, dança e ritmo, nos lembrando o quanto é prazeroso e alegre trabalhar essa temática e ainda contextualizar com esses temas etnicorraciais, um assunto muito importante a ser problematizado.

    E para encerrar nosso encontro, não poderíamos deixar de comentar sobre a situação de racismo vivida por um jogador de futebol brasileiro na Europa. O caso aconteceu alguns dias antes e chocou o mundo todo. E assim, finalizamos, com sentimento de indignação, porém todos juntos em apoio ao jogador Vinícius Jr, e ao antirracismo.


Decimo Primeiro Encontro (06/06/2023)

    A 11ª aula, trouxe o tema Diversidades sexuais e de gênero relacionados à Educação Física. E para falar sobre esse assunto a convidada da semana foi a professora Maria Simone. Maria Simone Vione Schwengber possui graduação em Educação Física, mestrado em Educação nas Ciências pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e doutorado em Educação pela UFRGS. Atualmente é professora assistente da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. É pesquisadora membro atuante do Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero (UFRGS) e do grupo do Grupo de Estudo e Pesquisa Paidotribo em (Ijuí-CNPq) (2010). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Física, atuando principalmente nos seguintes temas: educação física, corpo, gênero, educação em saúde e corpo-movimento.

    O início da apresentação se dá com os Estudos Feministas - Gênero: Para olhar a escola e a Educação Física. Segundo esses estudos, o objetivo é lutar por um mundo que a casa seja de todos e não uma casa para poucos, ou seja, lutar por uma dimensão de posições de diferentes sujeitos ( mulheres, homens, héteros, gays, transexuais, negros entre outros). E a escola é um lugar de encontro de corpos, por uma luta por igualdade, em que todos os corpos importam.

    O conceito de estudos Feministas surgiu no século XIX, XX, e se desenvolve como um movimento teórico, com igualdade em diferentes planos: político, social, educativo e econômico. Todavia, não é um movimento apenas para as mulheres, o feminismo combate, luta e convoca a todos participar de um trabalho de base , cujo a ferramenta primordial é a prática educativa. Sabe - se que ao longo dos séculos, marcou uma identidade central, homem, cristão, branco, burguês, heterosexual, físico e mentalmente "normal", enquanto os outros são colocados à margem da sociedade. Então, esses movimentos começam a surgir contra essa gramática de apenas uma centralidade, a masculina. Há uma institucionalização da autoridade masculina - subordinação das mulheres - a mulher com um sexo frágil de inferioridade física, psicológica e intelectual, como se ser mulher fosse um sinal de fragilidade , fraqueza e incapacidade.

    Outro debate trazido pela professora é o da Violência de Gênero. Agredir, degradar ou discriminar uma mulher pode ser incluído na Lei 7.716/89, brasileira que trata dos crimes de racismo, homofobia e transfobia. Nas redes sociais existem incentivos para masculinidade, colocando a mulher em uma posição inferior. A professora Simone destacou que, para uma aula do século XXI, não pode haver espaços, ou melhor, não deve haver esse tipo de situação, isso fica a cargo do professor trabalhar em sala de aula.

    Continuando com o feminismo, a professora Maria Simone lembra, que esse movimento defende a igualdade de direitos e deveres entre todas e todos. Ele foi constituído em 4 ondas, a 1°, entre 1921 e 1959, na Europa, EUA e Brasil, onde lutou pelo abolicionismo, republicanismo, direito de voto, educação e trabalho para mulheres fora do lar e aparições em espaços públicos. Já a 2°, 1960 a 1990, fala do pertencimento do corpo, ou seja, o corpo (feminino) me pertence, sendo assim, os corpos não como propriedade do masculino do pai, marido, padre ou pastor. E na 3° onda, 1990, avança para os estudos e se cunhar um conceito de gênero, as diferenças entre homens e mulheres social e culturalmente construídas e não biologicamente determinadas. Sendo assim, começam as lutas por igualdade - diferença nas relações de gênero e sexualidade como LGBTQIA+, pensando as diferentes orientações, inclusive sair do pensamento do homosexualismo e pensar a homosexualidades, pois o "ismo" está vinculado a uma doença, por isso muitos pensam em uma "cura" - a cura gay, lésbica. Logo, na 4° onda, o feminismo está nas em rede digital - ciberfeminismo. Nos anos 70, 80 os movimentos aconteciam nas ruas e hoje os movimentos acontecem na rua e nas redes. Até os anos 90, as informações chegavam por meio de revistas, manuais e não tinham como debater, com a entrada dessas redes sociais, há um compartilhamento das experiências produzindo uma interação mais horizontal entre os sujeitos, fazendo uma internalização de compartilhamentos promovendo assim campanhas de luta contra esses discursos de gêneros. E pensar as pluralidades de ser homem e de ser mulher, o conceito de gênero serve para pensar um olhar mais plural, com práticas e estratégias, pensar formas de investir e modificar as relações de poder e gênero, possibilitando o rompimento dos estereótipos inclusive com os professores, vindo de uma sociedade patriarcal.

    Então, a professora Simone acredita que a Educação Física promove o encontro e a potência de todos os corpos, colocando o corpo, não apenas um corpo, onde o corpo é mais de um gênero, raça/etnia, classe, sexualidade, geração, religião, nacionalidade, sendo esses os corpos que sangram em sala de aula. Sendo assim, promover uma educação física inclusiva, através de diálogo que respeite, que aposte nas diferenças, pois a pluralidade traz o enriquecimento cultural. Organizar as atividades que favoreçam a existência de todos os corpos, ensinar como eu lido com meu próprio corpo e com o corpo dos outros, sabendo reconhecer as violências corporais.

    Para encerrar sua fala, Prof. Maria Simone destaca sobre os estudos feministas no esporte, no qual tem um avanço, porém ainda precisa melhorar muito, além disso ela acredita na esperança de que as mudanças irão acontecer, que os movimentos vão fazer a diferença.

    Uma lindíssima apresentação, uma fala enriquecedora, nos fazendo pensar em nossas aulas de educação física e em nosso cotidiano de uma forma mais inclusiva, menos preconceituosa e abraçando as lutas femininas, para uma sociedade mais igualitária.

    Logo depois, tivemos uma roda de conversa, com troca de experiências com o nosso Professor Osmar nos compartilhando sua sopa, pois neste dia era ficou encarregado de fazer o jantar para sua filha, contextualizando com a temática do curso, em que podemos deixar de lado o machismo e pensar “De que é o lugar na cozinha?”, ou “quem deve assumir as responsabilidades da casa?”. E dentre os comentários, também surgiu o assunto mais recente que são os países que criaram leis de pena de morte para quem se assumir homosexual.

    Enfim, uma conversa muito participativa e dialogada, mas o encontro chegou ao fim, nos ensinando que devemos desconstruir esses estereótipos e os preconceitos através do respeito e da empatia.


Decimo Segundo Encontro (13/06/2023)

    O encontro desta semana, 06 de junho de 2023, abordou como tema a Interseccionalidade na Educação Física. E para falar sobre o assunto, convidamos a profª Dr. Priscila Dornelles. Priscila Gomes Dornelles Avelino, licenciada em Educação Física pela UFRGS, é especialista em Pedagogias do Corpo e da Saúde, mestre e doutora em Educação pela mesma instituição. É integrante do GEPEFE/UFRB (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Formação de Professores e Educação Física) e do Núcleo CAPITU/UFRB (Gênero, Diversidade e Sexualidade). É professora do curso de Educação Física e vinculada ao Mestrado Profissional em Educação do Campo do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Inicialmente, a profª Priscila começou falando de sua trajetória acadêmica como docente de escola, e que hoje é professora da Universidade Federal do Recôncavo Baiano no curso de Educação Física à 13 anos. Antes disso, trabalhava em uma escola pública onde constituiu sua necessidade de pesquisa, e assim começando seus estudos sobre Gênero, em algumas vezes fazendo parceria com sua amiga e professora nossa, aqui do curso, Ileana Wenetz.

    Iniciando sua apresentação, traz a interseccionalidade na educação física escolar como proposta de trabalho com uma perspectiva de intelectuais, mulheres e negras. Em seu mestrado, sua proposta de pesquisa faz uma análise das aulas em que os meninos e as meninas ficam separados durante as aulas de educação física, em Porto Alegre - RS. Apesar de não termos mais esta separação, ainda existem professores que utilizam essa metodologia. Essa é a perspectiva de pesquisa que mostra como o gênero funcionava organizando o pensamento pedagógico dos professores. Para esse estudo, a professora Priscila pergunta aos professores entrevistados do porquê separar; seria por uma compreensão de corpos distintos e incompreensivos juntos. Na visão destes, a separação se dá por suas características, por exemplo: meninos são mais fortes, mais ágeis, mais velozes etc, enquanto as meninas são mais delicadas, mais lentas, com menos força etc. Nesse sentido, o masculino se torna uma referência da educação física escolar, pois tem uma masculinidade ativa, já as femininas ou masculinidade passiva, ou seja, meninos menos habilidosos, calmos e que não têm interesse pelas práticas esportivas, são deixados de lado. Entende - se assim, que meninas e meninos deveriam viver conteúdos próximos aos seus corpos, eles futebol e basquetebol, elas voleibol e handebol.

    Ademais, em seu doutorado, a profª Priscila procura pensar sobre sexualidade - complexão binária, meninas de um jeito e meninos de outro. Ela traz a reflexão de que na sociedade compreende - se que quando fugindo da “normalidade”, a criança tem algum desvio, chamado de Heteronormatividade. Sua pesquisa se dá através de entrevistas com professores e o tema de sua tese se baseia em uma frase que houve muito, “ Prendam suas bezerras que meu garrote tá solto”. Essa frase remete ao mundo animal, referências de heterosexualidade, de um homem sem controle, uma perspectiva autorizada para a heteronormatividade. Sendo assim, os meninos se aproveitam das aulas de educação física para se aproximarem e se aproveitarem das meninas, em alongamentos, já nas aulas de lutas os meninos não querem praticar porque se recusam a fazer com outros meninos, pois o contexto do interior aponta para a sexualidade biológica, então é comum a heteronormatividade. Logo, em seu pós doutorado, pensou a interseccionalidade como uma uma ferramenta teórica e analítica, fazendo uma análise do curso de licenciatura em Educação Física do Universidade Federal do Recôncavo Baiano, numa perspectiva da colonialidade, raça e gênero na formação de professores, na qual apresenta um esquecimento da cultura trabalhando as práticas eurocêntricas e deixando de lado a capoeira, as práticas corporais indígenas entre outras.

    Para completar sua fala, a Profª Priscila nos apresentou alguns autores e autoras, que para ela foram importantes em seus estudos de mestrado e doutorado, como Hill Collins, Lélia Gonzalez, Maria Lugones, e muitas outras que tiveram enorme importância para essa temática.

    De modo geral, trabalhar o feminismo é uma soma de gênero + sexualidade, que foi o caminho que a professora Priscila seguiu, porém para pensar a interseccionalidade, devemos pensar no encontro entre gênero + raça + sexualidade e ainda pode incluir as classes na modernidade. E pensando na Educação Física e interseccionalidade - “o que podemos pensar?” - “Eu também estou pensando!”, diz a Profª Priscila. Todavia, devemos considerar a sociedade que temos e a falta de oportunidade de acesso e as desigualdades sociais na sociedade latina e brasileira, assumindo as diferenças de corpos e a produção de corpos privilegiados sem silenciar o racismo e nem evidenciar o privilégio branco. Sendo assim, quais formações teóricas e políticas são necessárias e quais práticas pedagógicas são necessárias? Essas são algumas perguntas que nossa convidada deixa para pensarmos em uma sociedade igualitária e em uma educação física interseccionista para fechar sua apresentação.

    Portanto, só temos a agradecer a participação da professora Priscila por esta maravilhosa palestra. Pois este é um tema muito importante para nossa área de atuação e ela nos apresentou seu trabalho lindamente e a forma como conduziu e todo o conteúdo que trouxe com certeza irá fazer uma reflexão nas pessoas que acompanharam.

    Dando continuidade a discussão da temática, o professor Osmar faz várias provocações, trazendo o feminismo negro, levantando questões de que a mulher branca ela é oprimida pelo homem branco, porém ela oprime o homem negro e a mulher negra, já a mulher negra, ela é oprimida pelo homem branco, homem negro e pela mulher branca. Em resposta, a professora diz que através de suas leituras e uma contextualização histórica, faz com que o feminismo, realmente junte as categorias: classe, gênero e sexualidade, lutando por todos os direitos, sem esquecer do racismo, fazendo um movimento de interseccionalidade.

    Em seguida, surgiram várias outras questões, principalmente pensando na formação de professores, trazendo assuntos como: trabalhar com as culturas originárias, seja indígenas ou afro-brasileiras, abordar o racismo histórico de babás negras, ou seja, as classes mais pobres ainda são a maioria negras, então as classes têm cor e gênero e assuntos direcionados a divisão de gênero nas escolas. E assim, encerrando nosso encontro, novamente, a professora Priscila reforça que como professores devemos pensar em práticas pedagógicas para mudar essa realidade que ainda está muito presente no cotidiano.

  

Decimo Terceiro Encontro (13/06/2023)


    O encontro desta semana teve como proposta a troca de experiências e uma conversa com nossos colegas sobre sua vivência no curso. No entanto, iniciou - se uma discussão sobre um grande autor da América Latina, Paulo Freire. Paulo Reglus Neves Freire foi um educador e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. É também o Patrono da Educação Brasileira. Por seu empenho em ensinar os mais pobres, Paulo Freire tornou-se uma inspiração para gerações de professores, especialmente na América Latina e na África. Em seu exílio, morou em alguns países da América do Sul, como Bolívia e Chile e nesse tempo escreveu vários livros que contribuíram muito para a educação para estes países. Durante a discussão sobre Paulo Freire, não poderia deixar de falar sobre sua principal obra, Pedagogia do Oprimido, e sobre sua forte crítica à educação bancária e sua contraproposta, educação dialógica. Outro livro que foi muito citado, principalmente pelas nossas professoras da Argentina é a obra Pedagogia da Esperança. Falar de Paulo Freire é assunto para horas e horas de conversa, mas como temos pouco tempo tivemos que encerrar o assunto e dar seguimento a nossa programação.

    Dando continuidade, a turma foi dividida em três grupos, e neles pudemos compartilhar nossas experiências, colocar os pontos positivos e negativos, mostrar quais foram os desafios de cada um, como foi comentado sobre a dificuldade de estar mais presente e participativo nas aulas, havendo uma opinião quase que generalizada, sobre a separação da turma em pequenos grupo deixando-os mais confortáveis em discutir os temas propostos. Contudo, os os assuntos que mais foram comentados nos grupos foram, a dificuldade de conexão, pois às vezes a internet não estava em boa qualidade, também a dificuldade de poder participar por conflito com outros compromissos, em geral os temas e os convidados foram parabenizados, com suas palestras maravilhosas, que assim como os assuntos aumentaram os conhecimentos alheios, também mostraram as semelhanças que esses temas têm nos países Argentina, Brasil e Chile, assim como teve também Colômbia, Equador e Uruguai. Além disso, conhecer colegas e professores de outras regiões, seja do mesmo país ou de outros, foi um enriquecimento tanto profissional quanto pessoal, pois acredita-se que este seja o maior objetivo deste encontro de profissionais e futuros da área de Educação Física. Outro item que não poderia deixar de ser comentado, é a questão do idioma, trazendo uma educação voltada para escuta, despertando o interesse de nossos colegas em aprender um outro idioma.

    Enfim, um encontro muito enriquecedor e pertinente com o debate de Paulo Freire e as falas dos alunos, que compartilharam suas experiências e expressaram suas emoções em participar deste curso. E como já estamos na reta final, depois deste encontro, acredito que podemos encerrar com a sensação de dever cumprido, pois como pudemos perceber ficaram todos muito satisfeitos com nossa proposta e com um gostinho de quero mais.

Decimo Quarto Encontro (27/06/2023)


    No dia 27 de junho chegamos ao nosso último encontro, e para a 14° semana recebemos o professor Dr Felipe Quintão, para encerrar falando sobre Educação Física, atividades epistemológicas e experiência decolonial. Assunto esse, que foi o tema principal durante todo nosso curso.

    Felipe Quintão de Almeida, tem graduação em Educação Física pela (UFES). Mestrado e Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência na área de Educação e Educação Física, com ênfase em: educação física escolar e epistemologia da educação física. Entre 2010 e 2018, foi editor adjunto da Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE) e do Cadernos de Formação RBCE . Foi Secretário Estadual do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte no Espírito Santo (gestão 2010-2012). Atuou como vice-secretário entre 2012-2014. Foi Coordenador adjunto do Grupo de Trabalho Temático Epistemologia, do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, na gestão 2011-2013 e 2017-2019. É o atual coordenador do Grupo de Trabalho Temático Epistemologia do referido Colégio (2019-2021). Foi Diretor Científico do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (2013-2017). Pós-doutorado na Universidade de Strathclyde, em Glasgow/Escócia (2018-2019). Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Espírito-Santo (2020-2022). Professor do Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional (PROEF).

    O professor Felipe inicia falando de decolonialidade, com base em um de seus trabalhos, um artigo que será publicado em um dossiê. O qual faz uma descrição de apropriações em um giro decolonial na educação física brasileira, apresentando três dilemas/desafios epistemológicos, o primeiro seria sobre a modernidade como sinônimo de decolonialidade - ele traz essa temática a fim de fazer uma provocação, levando as pessoas a refletirem, e se perguntarem, porque quase não se fala sobre esse tema no campo da Educação Física.Para uma segunda dimensão, faz - se uma oposição entre uma epistemologia ocidental e uma epistemologia ou saberes não ocidentais - onde ele problematiza essa contraditória, fazendo uma análise da construção cultural advinda da colonialidade. E por fim, uma terceira dimensão, muito importante, destacado por Quintão, é o chamado: lugar de ensinamentos ou lugar de fala - por ser um tema muito recorrente podendo assim, se apropriar deste em debates e pesquisas.

    Além disso, o professor Felipe coloca que nos últimos tempos, foram identificados uma série de premissas e autores decoloniais que defendem uma educação física escolar social, ecológica e cognitiva, tratando - se de um fenômeno, não só brasileiro, mas no mundo. Porém, no caso do Brasil, as análises que vão se utilizar de perspectiva decolonial, tendo assim, uma série de nomes, o qual foi notado nos últimos anos, pois, antes disso não se tinha um termo para que pudesse ser feito uma crítica à colonialidade e assim não era uma leitura muito empregada, tanto no Brasil, quanto em outros países.

    No Brasil esse conceito veio de inspiração através de um grupo de intelectuais intitulados Modernidade Colonialidade, um coletivo de pesquisadores de distintas partes do mundo com o propósito de escancarar o poder do ser e saber que estruturou o desenvolvimento da modernidade capitalista, fundamentada no racismo, patriarquismo e na exploração da natureza. Sendo assim, a educação física compartilha a crítica de que as raízes europeias da educação física e das práticas corporais compõem esse universo, inclusive é uma invenção da modernidade, sendo assim, se tornando parte do problema, levando a uma denúncia da origem geopolítica da educação física. Todavia, essa origem eurocêntrica silenciou outras formas de conhecimento.

    Segundo o professor Felipe, esses autores vêem uma necessidade de decoloniar o currículo da disciplina, que é baseado na cultura ocidental, cuja maior expressão é o esporte moderno, em que historicamente tem predominado no campo da educação física. Dessa forma, merece ser destacado nesse contexto a valorização de temas e conceitos como ancestralidade, saberes indígenas, afro-brasileiras, africanos, das mulheres, populações que foram vítimas da colonialidade.

    Para isso, precisamos praticar o exercício de aprender a desaprender o legado pelo pensamento colonial e também aprender a reaprender outros paradigmas e tradições culturais do desenvolvimento de pedagogias que são críticas, pretendendo construir a luz do pensamento decolonial. Aliás, Felipe fala de autores que foram citados para as referências dos do curso e que também ministraram palestras aqui.

    Para o segundo momento o professor traz algumas dúvidas fazendo provocações sobre essa modernidade eurocêntrica impostos a esses países, lamentando não existir esse tipo de provocações e perguntas no campo da educação física.

    Suas provocações repercutiram em um debate entre os professores e alunos discutindo sobre as contradições que há entre os autores que trabalham com essa temática. Somando a pensamentos plurais epistemológicos de construção de conhecimentos para a educação física, tanto nas escolas, quanto na formação docente, como podemos observar nas aulas do nosso curso, que traz essa abordagem a fim de fazer essas reflexões.

    No entanto, todos concordam que esse não é um tema novo, mas um tema recente para o campo da educação física colocando o discurso de decolonialidade em debates políticos. Ademais, esse tema ganhou notoriedade muito por conta das mídias e tecnologias. Além disso, muito se fala sobre isso, porém pouco se coloca em prática.

    Finalizando sua apresentação, o professor Felipe retoma sua fala lembrando de se fazer questionamentos e da importância de haver um diálogo intercultural, pois nós como educadores devemos promover a mudança dessa visão colonial, começando pela formação universitária.

    Foi um encontro maravilhoso, muito pertinente e as provocações trazidas pelo professor Felipe nos fizeram refletir sobre como estamos olhando para a nossa educação física. Não podemos deixar de parabenizá - lo por sua belíssima apresentação.

    E assim chegamos ao fim de mais uma edição do curso “Educação Física em Contextos Pedagógicos Latinoamericano”, foram encontros enriquecedores, com conhecimentos e experiências compartilhadas entre os três países, debates reflexivos e pertinentes que nos fizeram ver o contexto da educação física com um outro olhar, mais humano e decolonial.

Comentários

Postagens mais visitadas